Denúncias de espionagem e relações internacionais

Estimule os alunos a debaterem as recentes denúncias de espionagem e a produzirem cartas para o governo brasileiro e para a embaixada norte-americana



Presidenta Dilma Rousseff durante fotografia oficial da cúpula do G20. Crédito: Robert Stuckert Filho/Divulgação Presidência da República

Objetivos
- Pesquisar textos informativos e promover um debate sobre espionagem internacional, vazamento de dados sigilosos de governos e empresas e denúncias de acesso a dados privados de cidadãos
- Expor opiniões individuais por meio de parágrafos dissertativos a respeito do assunto
- Produzir cartas dirigidas ao governo brasileiro e à embaixada dos EUA para apresentar comentários e questionamentos sobre os recentes casos de espionagem internacional



Conteúdos
- Produção de texto dissertativo
- Produção de uma carta formal

Tempo estimado
Duas aulas

Anos
Ensino Médio

Materiais necessários
- Cópias da entrevista "O Brasil não é o nosso alvo" (Veja, 11 de setembro de 2013, 2338)
- Seleção de reportagens e artigos


Introdução
A espionagem sempre foi um assunto espinhoso para as relações diplomáticas internacionais. Afinal, nenhum país admite se favorecer da espionagem para obter dados sigilosos de outros países ou corporações. Da mesma forma, nenhum país ou governo gosta da ideia de ter seus segredos devassados por espiões internacionais. Desde 2010, com a divulgação de dados secretos pela organização WikiLeaks, tem ganhado destaque notícias sobre operações sigilosas, espionagem e ações controversas de governos para garantirem seus interesses políticos e comerciais.

Nos últimos meses, a espionagem internacional voltou às manchetes após a divulgação de diversos documentos oficiais confidenciais relacionados a atividades de espionagem dos Estados Unidos contra países inimigos e também contra governos aliados. O escândalo veio à tona depois que o ex-analista de inteligência dos EUA Edward Snowden contatou o jornalista Glenn Greenwald para revelar detalhes da ação norte-americana. A crise não começou nem terminou aí: as relações bilaterais entre EUA e Rússia já andavam abaladas por conta de suspeitas de vazamento de segredos militares e estratégicos de ambos os lados. Para deixar tudo ainda mais tenso, a Rússia desagradou os EUA ao conceder asilo a Snowden, que fugia da perseguição dos agentes americanos para não ser preso e julgado por traição em seu país.
No início de setembro, a imprensa noticiou que a Agência Nacional de Segurança (NSA) dos EUA havia espionado comunicações do governo brasileiro, da presidenta Dilma Rousseff, da Petrobras, entre outros. A denúncia acentuou a crise diplomática entre os governos brasileiro e americano. As autoridades brasileiras cobraram justificativa para as ações e informações sobre o alcance da espionagem. O secretário de Estado norte-americano John Kerry, em visita ao Brasil há um mês, defendeu as ações e afirmou que a espionagem evitou "atentados terroristas". A justificativa de que a espionagem faz parte de uma política de segurança legítima também é defendida pelo ex-embaixador norte-americano no Brasil Thomas Shannon, na entrevista "O Brasil não é o nosso alvo", publicada na revista Veja.
Utilize essa entrevista como ponto de partida para uma discussão a respeito do tema e estimule seus alunos a produzir textos argumentativos, defendendo pontos de vista sobre a legitimidade (ou não) da espionagem internacional e como esta atividade pode afetar as relações diplomáticas entre países. A atividade também deve propor à turma a redação de cartas dirigidas ao governo brasileiro e também à embaixada dos EUA com opiniões e questionamentos sobre o assunto.
É interessante que você, professor, pesquise e apresente aos estudantes outros textos jornalísticos a respeito das recentes denúncias de espionagem promovidas pela NSA, a agência de segurança dos EUA, contra países como o Brasil. Além de notícias e artigos de opinião com declarações do governo brasileiro sobre o tema, selecione e leve para debate com os alunos entrevistas com alguns dos nomes envolvidos nas denúncias recentes de espionagem internacional e divulgação de dados sigilosos, como Julien Assange, fundados do Wikileaks, e o jornalista norte-americano Glenn Greenwald, responsável pela divulgação dos documentos secretos obtidos pelo ex-analista de inteligência,  Edward Snowden. Esta pesquisa é importante para oferecer à turma um contraponto à posição defendida pelo embaixador Shannon sobre a política norte-americana.
Desenvolvimento
Professor, o tema da espionagem é bastante amplo e pode promover discussões interessantes. Está presente na literatura, em obras como a de Agatha Christie e John LeCarré, e no cinema, em filmes como os do famoso espião inglês James Bond, o agente 007, "A identidade Bourne", "Missão impossível", e as comédias, "Agente 86" e "A pantera cor de rosa". Há ainda documentários como "The U.S. versus John Lennon", que narra a perseguição que o governo americano, presidido por Richard Nixon, empreendeu contra o ex-beatle por conta de suas atividades políticas na década de 1970, e "Sob a névoa da Guerra", que foca a atuação do ex-secretário de defesa dos EUA, Robert McNamara, responsável, entre outras atividades, por diversas operações na Guerra do Vietnã. Se houver tempo e interesse, escolha um filme ou uma obra literária para complementar as informações debatidas em aula.


1ª etapa
Inicie a aula fazendo uma breve explanação a respeito da espionagem realizada pela NSA (a Agência de Segurança dos EUA) contra o governo brasileiro e empresas como a Petrobras. Comente o fato de que há evidências de que as atividades e contas pessoais de email da presidenta Dilma Rousseff foram espionadas e que isso gerou desconforto entre a diplomacia do Brasil e dos EUA. Lembre os alunos da visita que o secretário de Estado dos EUA, John Kerry, fez ao nosso país no mês passado. Comente que o secretário defendeu as ações de espionagem como uma política de Estado de seu país, dizendo que essas atividades, apesar de incômodas, teriam evitado ações de terrorismo internacional.

Distribua entre os alunos cópias da entrevista do embaixador Thomas Shannon, que deixou o Brasil para assumir o cargo de conselheiro especial de John Kerry. Peça que façam uma leitura, destacando os pontos que mais chamam atenção na fala do embaixador. Estimule os alunos a refletir sobre a entrevista: concordam com a política adotada pelo governo americano? Quais seriam os interesses reais dos Estados Unidos em relação a dados sigilosos do governo brasileiro? Por que teriam  interesse em espionar a Petrobras e a própria presidente da República?
Oriente os alunos a lerem os artigos e notícias que você pesquisou previamente. Estimule-os a debater o assunto, procurando expor pontos de vista sobre a posição adotada pelo governo brasileiro e também sobre a justificativa apresentada pelas autoridades norte-americanas.
Peça que escrevam parágrafos argumentativos em que eles resumam seus pontos de vista sobre o tema. Após a produção, convide alguns alunos a lerem seus textos e faça um mural para expor esses posicionamentos.
Oriente os alunos a levarem uma atividade para casa. Peça que, divididos em grupos ou individualmente, façam um levantamento das principais notícias sobre os escândalos internacionais envolvendo espionagem, a partir da divulgação dos dados do WikiLeaks. É interessante chamar atenção para a relação entre espionagem e o atual momento de tensão na Síria, em que o regime de Bashar Al Assad é acusado pelos EUA de utilização de armas químicas contra os rebeldes, na guerra civil que desola o país. O objetivo é que os alunos percebam que os atores envolvidos na guerra na Síria são justamente os mais citados nos dados divulgados, tanto pelo WikiLeaks como pelo ex-agente de inteligência Edward Snowden: os EUA, a Rússia, a China, Israel e o Irã, além do secretário John Kerry e o ex-embaixador Thomas Shannon.

2ª etapa
Inicie a aula pedindo aos alunos que demonstrem os resultados do levantamento. Quantos escândalos de espionagem internacional ocorreram nos últimos anos? Em quantos deles os EUA estavam envolvidos? É possível prever alguma conclusão a respeito do envolvimento de empresas, como Google e Facebook, na espionagem ou vazamento de dados de usuários de redes sociais? Como definir as atividades de espionagem no século 21 - são necessárias ou continuam a ser algo ilícito e imoral?

Nesta aula, é interessante que você apresente à turma novos textos para aprofundar a discussão sobre o tema, como opiniões de especialistas em direito e relações internacionais.
Retome com os alunos os posicionamentos reunidos no mural na aula anterior e façam em conjunto um balanço dos comentários feitos após a pesquisa em casa. Oriente os alunos a produzir cartas dirigidas à Casa Civil, ao Itamaraty ou à Embaixada dos EUA no Brasil. Nos textos, eles devem apresentar seus argumentos e levantar questionamentos a respeito dos posicionamentos oficiais sobre a espionagem internacional.
Apresente à turma os elementos necessários para a escrita de uma carta. A carta é um gênero textual que expressa opiniões, questionamentos, discussões, posicionamentos e interesses. Para dirigir-se às instituições, é preciso, em primeiro lugar, identificar as pessoas responsáveis pelas informações e dirigir a carta a elas. É também importante observar a necessidade de utilização de linguagem formal e polida, formas de tratamento de acordo com o destinatário, além de argumentos que deixem claras quais as intenções do remetente.
A carta destinada ao governo brasileiro (ao Itamaraty ou à Casa Civil) pode, por exemplo, pedir explicações sobre a postura adotada pelo governo diante da evidência de espionagem em nossas instituições, além de cobrar uma postura mais firme, exigindo retratação e explicações claras dos EUA sobre suas atividades espiãs.
À Embaixada dos EUA, pode ser interessante inquirir a respeito das reais intenções do governo americano com sua política de obtenção de dados por meio de espionagem. A justificativa de segurança nacional e prevenção do terrorismo é realmente válida? Se os EUA espionam, eles então têm que aceitar também ser espionados?
Oriente os alunos a enviar realmente as cartas - podem ser utilizados tanto os meios tradicionais (papel, envelope, selo, correio) quanto os meios eletrônicos (emails de atendimento e relacionamento das instituições destinatárias das cartas).
Peça que façam cópias e protocolem os documentos, quando possível, e caso obtenham respostas, que exponham e debatam sobre elas.


Avaliação
A avaliação deve ser feita em duas vertentes, Primeiro, devem ser avaliados aspectos relativos à construção textual (adequação ao gênero proposto, ortografia, coerência, coesão, uso adequado do vocabulário, utilização da norma culta, organização lógica das ideias propostas e conexão entre os parágrafos).


Depois, avalie se os alunos foram capazes de produzir textos no gênero carta cujos argumentos evidenciem os conhecimentos a respeito das relações diplomáticas entre os países, as falhas de segurança no armazenamento e compartilhamento de dados privados e institucionais, as ações de vigilância e espionagem adotadas pelos EUA, além de trazerem reflexões próprias expostas pelos alunos.

Fonte: http://revistaescola.abril.com.br/ensino-medio/plano-aula-escrita-carta-denuncias-espionagem-relacoes-internacionais-753422.shtml

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